28 de abr. de 2009

De mãos dadas com Deus – I - Cap VII

Por Muriel Elisa T. Niess Pokk

Surgia agora mais um problema: um dia ela me pediu para tirá-la da escola de deficientes. Disse: "Mãe, não agüento mais ficar colando papéis e feijões dentro de círculos. Por favor, me tira daqui!"

Para ficar na escola de deficientes ela era normal, mas para ficar numa escola normal ela era deficiente. Fui de escola em escola. Ninguém a aceitava, não queriam nem ao menos vê-la. Apenas diziam não. Andei muito, me cansei muito. Sempre pensando: "Se não a querem aqui é porque não é aqui que você vai ser feliz."

Não era possível que em São Paulo não houvesse uma escola normal que aceitasse minha filha. Uma escola onde ela fosse feliz. Pela primeira vez desde que ela havia nascido, começava a me sentir derrotada.

Não agüentava mais ouvir um não em cada lugar que ia. Em cada escola de balé, em cada escola de natação, em cada escola de ginástica. Nem mesmo no clube ou nas escolas da Prefeitura havia lugar para ela.

Mas nesse clube e nessas escolas havia professores para cegos, para surdos, menos para deficientes mentais. Minha mãe sempre dizia: "Quando a solução não vem da Terra, ela vem do Céu." Aprendi a ter fé e a rezar com minha mãe. Mas chegou uma hora em que não conseguia mais rezar, parecia que meu coração estava vazio, que as orações que sempre fizeram parte de minha vida não tinham mais efeito.

E, numa noite muito fria, a única coisa que eu consegui dizer foi: "Senhor, não consigo mais rezar, minha filha tem 10 anos, precisa e quer estudar, me ajude!" E adormeci. No dia seguinte, minha irmã veio me visitar e disse: "Viu que abriu uma escola primária aqui pertinho? Por que você não vai lá?"

Pedi que ela fosse por mim, me sentia muito cansada, não queria mais ouvir um não. Ela vestiu a Rita bem bonita e foi até a escola. Quando voltou, trazia um sorriso nos lábios, me abraçou e disse: "Ela já está matriculada." Pulei de alegria. Ajoelhei-me e agradeci ao Senhor por me ter ouvido, e reacendido minha fé.

CONTINUA... capítulo VIII

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