Por Muriel Elisa T. Niess Pokk
Quando Rita completou dois anos e meio, chegou a hora de trabalhar o resto de sua coordenação. Fazia tudo como se fosse uma brincadeira, para ela não se cansar e sempre querer participar.
No escuro, eu acendia uma lanterna e dizia: "Filhinha, cadê a luz?", e ela ia procurando onde estava o foco de luz. Batendo palmas, eu dizia para ela "Achou!" Apagava a lanterna e acendia, colocando o foco em outra direção. Algumas vezes, fazia o foco da lanterna ir para a frente e para trás; outras vezes, para cima e para baixo, para que ela o seguisse e aguçasse sua atenção.
Tocava um sininho atrás dela e ela virava para ver o que era. Eu dava um beijo nela e ela ria.
Eu a fazia segurar objetos finos e grossos, objetos grandes e pequenos, passava sua mão sobre uma lixa e depois sobre o veludo, sobre coisas lisas e coisas onduladas, sobre coisas quentinhas e sobre coisas geladas, para que ela aguçasse o tato e sua percepção ficasse cada vez mais aguçada.
Colocava pequeninas pitadas de sal em sua boca, deixando que ela sentisse bem o sabor, e depois colocava a mesma quantidade de açúcar em sua boca, para que ela sentisse a diferença. Outras vezes, fazia a mesma coisa só que com vinagre e depois com mel. Aguçando, assim, cada vez mais seu paladar.
Eu a fazia cheirar perfume e depois algo com cheiro desagradável, para que ela aguçasse o olfato.
Quando ela completou três anos e meio, comecei a trabalhar com as cores. Comprei um boliche de plástico e pintei cada garrafinha de uma cor. Brincava com ela colocando um pino (vermelho) em pé e dizia: "A mamãe vai pegar a garrafinha vermelha!", e corria até a garrafinha e a pegava. Aí falava para ela: "Agora é você que vai pegar a garrafinha vermelha."
Ela olhava para mim e continuava sentada no chão. Então eu a levantava, segurava suas mãozinhas, levava-a até o pino e fazia com que ela o pegasse. Aí eu batia palmas e fazia festinha para ela, e ela sorria. Passado mais de um mês de várias tentativas sem sucesso, eu caí em prantos e, olhando para ela, falei: "Não está dando certo. Você não pode compreender o que eu estou pedindo..." Ela me olhou, foi até a garrafinha vermelha, pegou-a e me deu. Como se dissesse: "Eu posso sim. Não desista, mãe, tá dando certo."
Eu a peguei no colo e a abracei e a beijei muito. Aquilo foi uma injeção de ânimo. Então, quando ela aprendeu a cor vermelha, coloquei o pino amarelo, e assim por diante, até ela aprender todas as cores básicas. Após ter aprendido, fazia diariamente exercícios para que ela não esquecesse mais as cores. Colocava 2 pinos de cores diferentes - por exemplo, o vermelho e o amarelo - e dizia: "Agora, pega o vermelho. Agora, pega o amarelo."
Achei que ela já estava preparada para aprender mais e comprei letras e números de madeira bem grandes. Fiz o mesmo tipo de exercício que havia feito com ela para aprender as cores, só que agora eu a fazia passar a mão sobre a letra ou o número. "Esta é a letra A" ou "Este é o número 3". Colocava no chão e pedia para que ela o fosse buscar, e assim por diante. As pessoas diziam que eu estava louca - "Imagine querer ensiná-la a ler com 3 anos, ainda mais deficiente!" Mas não era isso. Eu queria apenas que ela conhecesse o nome das coisas.
CONTINUA…
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