4 de jun. de 2009

CARTA AO MEU FILHO – cap.I

Muriel Elisa Távora Niess Pokk

edu nene 3 Eduardo, há muito tempo eu desejava fazer-lhe uma homenagem, finalmente chegou à oportunidade.
Quero dizer publicamente que você é um filho maravilhoso, um bom companheiro e um grande amigo.

Infelizmente você começou a conhecer as tristezas da vida muito cedo. Quando seu pai chegava embriagado e brigava comigo, eu chorava.
Você me abraçava apertado e ficava olhando para ele, enquanto suas lágrimas caíam silenciosas.
Com o passar do tempo sua fisionomia começou a mudar: no lugar das lágrimas, apenas o silêncio.
Cansado de vê-lo me ofender, você se colocou entre mim e ele e disse:
- LARGA A MINHA MÃE! Mas, você era muito pequeno e foi empurrado com violência.
Mesmo tendo apenas 4 anos, em muitas outras ocasiões você tentou me defender, porém sem êxito.

Apesar de seu pai ser um alcoólatra, você o amava muito. Quando ele foi embora de casa você tinha cinco anos. Por sentir muita falta dele, pois ele não vinha vê-lo, você adoeceu. Ficou vários dias com febre altíssima, parecia que nenhum remédio fazia efeito. A febre cedia por algumas horas e depois voltava com força total.

Uma noite, ardendo em febre, você disse:
- Mãe, quando o papai voltar quero que ele more aqui de novo. Como pena de você, concordei.
Essas palavras foram um santo remédio, pois no dia seguinte você estava sem febre.

Sua convicção de que seu pai voltaria nunca o abandonou. Mesmo sem ele dar notícias, você ficava todos os dias ao entardecer, sentadinho no degrau da porta de casa esperando por ele.
Quando anoitecia eu me ajoelhava pertinho de você e falava baixinho:
- Ele não virá hoje, meu filho!
Tristemente você dizia:
- Mãe um dia ele vai voltar.

Você nunca deixou de procurar por seu pai. Com freqüência, ligava para o antigo trabalho dele, para saber se ele estava lá.
Um dia, ligou para um jornal chamado “Folha de Informação” e perguntou:
- Moça, onde meu pai está?
(...)
Como não sabe? Aí não é onde informam tudo?
(...)
É, estou com muita saudade dele!
E dizendo isso, tristemente desligou.

Por eu não ter com quem conversar, confidenciei-lhe que estava me sentindo muito cansada e que não conseguiria dar conta de tudo sozinha. Você ficou de pé no sofá, colocou seus bracinhos em volta do meu pescoço e disse:

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- Mãe, você não está sozinha, eu vou cuidar de você e da Rita. Depois, foi até a cozinha, pegou o pano de prato e enxugou minhas lágrimas.

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