23 de abr. de 2009

De mãos dadas com Deus II – Cap. VI

Capitulo VI

À Rita eu disse que ela poderia tomar anticoncepcional e adverti que não poderia falhar nenhum dia.

Eles fizeram um olhar de quem fica chateado. E Ariel perguntou:

Não tem outra coisa que resolva de uma vez?

Expus-lhe que havia dois métodos: a Rita poderia fazer laqueadura ou ele fazer vasectomia. Eles pediram para que eu explicasse no que consistia cada um desses métodos, e eu expliquei.

Eles ficaram de resolver o que iriam fazer.

Ariel, num gesto de amor à sua futura esposa, depois de conversar com seus pais, me disse:

- Muriel, meu pai falou que a vasectomia não causa nenhum problema e convenceu minha mãe da minha decisão:

- Por amor à Rita eu vou fazer a vasectomia.

Feita a operação, o próximo passo era marcar o casamento.

O casamento foi marcado para o dia 23 de novembro.

Escolhemos o buffe, o florista responsável pela ornamentação, a cor do tapete, o profissional que tocaria as músicas escolhidas pelo casal, os pratos que iriam ser servidos aos convidados e o vestido da noiva.

Por ser o Ariel judeu e Rita católica, por nossas famílias respeitarem a religião uma da outra, optamos por um casamento ecumênico.

Estava começando a minha via crucis.

Fui a várias igrejas, mas todos os padres se recusaram a fazer o casamento. Um deles "bondosamente" se ofereceu para fazer o casamento, mas, de portas fechadas, sem que ninguém visse.

Resolvi falar com o pessoal da Cúria Metropolitana de São Paulo; talvez eles não soubessem que estava havendo esse preconceito todo.

Liguei para lá no dia seis de abril de 2003 e falei com o monsenhor Cosmo Maestri. Ao ouvir que eu queria que um padre fizesse o casamento da minha filha Down, ele respondeu secamente que eu aguardasse uma semana, pois precisava conversar com outras pessoas. Eu aguardei, mas ele não retornou com uma resposta.

Liguei novamente dia seis de maio de 2003, e tornei a falar com esse monsenhor. Mais uma vez, ele mandou que eu aguardasse uma semana pois não tinha uma resposta ainda. E assim foi a cada ligação que eu fazia.

Depois de ser "enrolada" por ele durante 4 meses, fui até a cúria e exigi uma resposta.

Ele, estupidamente o monselhor Cosmos, falou:

- A senhora esta fazendo tudo isso porque é uma mãe frustrada que quer se realizar através de sua filha, por que ela mesma nem sabe o que está acontecendo.

Eu falei que isso não era verdade, que era o sonho da minha filha se casar em nossa religião, pois o noivo era judeu.

Mesmo sem conhecer os noivos, ele continuou:

- Não fazemos casamento de retardados, retardados não casam. Eles não sabem o que estão fazendo.

Perguntei-lhe em que lugar da bíblia estava escrito isso, mas ele não respondeu.

Nem poderia. Essa besteira que ele disse não está escrito em lugar nenhum da Bíblia porque, perante Deus, somos todos iguais.

Isso são coisas de mentes mesquinhas de homens preconceituosos que acham que têm todo o poder, mas não tem nenhum.

Muito irritada, lhe avisei que iria contratar um padre protestante, para casar minha filha, pois Deus era um só, também disse, que ia convidar todos jornais e pedir aos repórteres para fazerem a reportagem sobre casamento, que, antes da cerimônia se realizar, iria pegar o microfone e dizer:

- Quero que o que vou falar conste em todos os jonais... A partir de hoje, eu e minha família estamos deixando de ser católicos, pois o Monsenhor Cosmo Maetri disse que a igreja católica me disse que não casa retardados.

Virei as costas e sai de lá as pressas, não queria que ele me visse chorando.

Assim que cheguei em casa o telefone tocou; era o Monsenhor. Primeiro agrediu-me verbalmente e, depois, mandou que eu entrasse em contato com o Padre Boim da Igreja Nossa senhora da Esperança (Moema).

Mesmo magoada com as ofensas ouvidas, fiquei contente porque achei que estava tudo resolvido.

Liguei para a igreja e falei:

- Padre, o Monsenhor mandou falar com o senhor para combinar o casamento, então está tudo certo? Quando posso ir aí?

Ele respondeu:

- Não tem nada certo. Primeiro, preciso ver que TIPO de pessoas vocês são.

Quis desistir, mas meu filho me confortou, e se propos ir comigo

e Rita até lá.

Fomos atendidos friamente. Finalmente, de má vontade Padre Boim marcou na sua agenda a data e o local onde deveria comparecer.

O casamento foi feito no salão do buffet, pois por ser um casamento ecumênico precisaria ser feito num lugar bonito.

Ainda bem que havia o rabino que falou coisas bonitas e fez um casamento lindíssimo. Porque o padre apenas leu uma poesia do Carlos Drumond, sequer deu uma benção aos noivos.

Abro um parentese para deixar aqui o meu protesto contra esse preconceito tolo que a igreja católica apostólica romana (com letra minúscula mesmo) tem, através de seus representantes, o contra o portador de deficiência.

Ao ver Rita entrar, e caminhando em direção ao seu noivo, de braço dado com seu pai, a emoção tomou conta de mim, veio-me à mente toda a sua vida desde o nascimento e também todas as nossas lutas e vitórias. Com os olhos cheios de lágrimas, sorri, agradeci a Jesus por aquela benção tão grande.

Emoção maior se apossou de todos que ouviram as juras de amor que o casal fez e presenciaram as trocarem alianças.

Naquele instante agradeci ao Todo Poderoso por nunca ter me abandonado.

Hoje posso afirmar que sempre andei e sempre andarei, “De mãos dadas com Deus”.

O texto De Mãos dadas com Deus
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2 comentários:

Unknown disse...

Maravilhoso! Emocionante!!! Fiquei muitíssimo feliz em poder ler toda a história de tanto amor que é expressado na mais verdadeira acepção da palavra: AMOR! Amor de Mãe, com sua dedicação extremosa e infinita, e amor entre os noivos, agora já casados e sob a Proteção Divina! Fico muito feliz, pois fui uma das que assinei e deixei meu protesto de imensa indignação, quando circulou na net um email falando das aberrações que o Monsenhor falou naquela ocasião... Muriel, ( permita-me chamar-lhe assim, por gentileza! )quero lhe dizer que a ADMIRO MUITO desde aquele instante e que peço a Deus que lhe abençõe bem como a Rita e Ariel e todos os seus familiares!
Com muita emoção, profundo respeito e admiração, receba meu carinhoso abraço!
Lúcia-Lms
( Lúcia Souza )

Ligia Tomarchio disse...

Querida Muriel!
Acabei de ler toda história de Rita e Ariel, toda sua luta para conseguir que criassem meios de comunicação entre deficientes na Internet, sobre as escolas, o abaixo assinado, a publicação da sua matéria no jornal o Globo do Rio, a sala de chat do Uol para deficientes, enfim, você é um lutadora, sempre com muita fé e persist~encia, nunca desistiu dos seus objetivos, mesmo encontrando as mais variadas barreiras, como a da igreja católica apostólica romana com letra minúscula.
Estou emocionada e feliz com todo seu relato e só posso desejar toda felicidade do mundo para o jovem casal Rita de Cássia e Ariel.
Tomara muitos leiam seu relato e entendam a importância de tudo que conquistou para sua filha e outros deficientes que agora, podem usufruir do qeu antes não existia. Parabéns amiga e "Mãe do Ano 2009"!
Beijos carinhosos do meu no seu lindo coração!!!
Ligi@Tomarchio®