23 de abr. de 2009

De mãos dadas com Deus II – Cap. V

Capítulo V

Por não poder prever o futuro, sem saber se algum dia Rita e Ariel ficariam noivos de verdade, no dia da troca de alianças, fiz, em casa, uma bonita festa, com direito a um bolo ornamentado com duas alianças, docinhos, sanduíches, salgadinhos e refrigerantes.

Foram tiradas muitas fotos e também mandei filmar o evento.

Fiz tudo como se realmente fosse um noivado de verdade.

Toda minha família compareceu, mas ninguém da família do Ariel estava presente. Apesar disso, ele sorria o tempo inteiro. Rita também sorria muito e em seus olhos havia um brilho intenso de felicidade.

O tempo foi passando e por estarem se amando cada dia mais, eles decidiram que iriam ficar noivos.

Com alegria, eu, Corinne, Ariel e Rita, fomos a uma joalheria para que eles escolhessem a aliança de noivado no modelo que mais lhes aprouvesse.

Contrariando Corinne - que queria que eles escolhessem uma aliança com a face de cima chatinha - eles escolheram a tradicional aliança redonda.

Chegou o dia escolhido. Como da primeira vez, fiz, em casa, uma linda festa.

Toda minha família estava presente, e, desta vez, a família do Ariel também.

Rita estava linda em seu vestido branco e justo; seus cabelos soltos, emolduravam seu rosto; o batom, em tom rosa suave, deixava seus lábios mais belos; a sombra, que eu havia passado em suas pálpebras superiores, fazia com que o azul de seus olhos sobressaíssem e ficassem ainda mais brilhantes.

Antes da troca das alianças, Ariel pediu a palavra e como todo homem falou rapidamente que estava feliz. Rita, como mulher romântica e apaixonada, fez uma linda declaração de amor ao seu amado.

Todos nós notamos o carinho que havia entre os dois quando colocaram, um no outro, as alianças.

Ao fazerem o brinde, seus olhos faiscavam de tanta alegria.

O amor foi crescendo dia-a-dia. Sem conseguirem mais viver um longe do outro, resolveram se casar.

Os preparativos para o casamento foram feitos com muita alegria por ambas as famílias.

Com o casamento se aproximando, surgiu uma dúvida: Ariel seria ou não estéril?

Corine, mãe de Ariel, levou-o ao médico, que pediu a realização de exames que revelariam a respeito de sua fertilidade.

Corinne pensava que todos os rapazes Down eram estéreis, mas os exames do Ariel provaram que ela estava enganada: ele poderia ter filhos.

Expliquei a eles todos os métodos para evitar filhos, falei sobre a camisinha e esclareci a ele, uma vez que nunca tinha ouvido falar nela, como ele deveria usá-la.

Entusiasmada resolvi fazer encontros entre os freqüentadores da salinha para que eles se conhecessem pessoalmente.

O primeiro deles foi realizado no dia 28 de fevereiro de 2000, num restaurante famoso do shopping Ibirapuera.

Foi maravilhoso, havia muitas pessoas, entre elas, uma amigo da escola que Rita estava freqüentando, ele era um rapaz bonito, simpático, e portador da síndrome de Down.

Ao ver Rita, ele sorrindo, sentou-se junto dela. Eles conversaram muito, e vez por outra riam gostosamente. Reparei que os olhos de minha filha, brilhavam, eles sempre foram muito brilhantes, mas, agora brilhavam de uma forma que eu jamais vira... era um brilho diferente.

Num dado momento Ariel levantou-se, foi até o rapaz que tocava piano e falou qualquer coisa em seu ouvido.

O moço se coloca de pé e diz:

- A música que vou tocar agora, é oferecida pelo Ariel à Rita de Cássia.

Para mim esse fato foi emocionante.

Ao terminar aquela música, Rita também foi ao pianista. E de novo ouve-se falar:

- Essa música é oferecida ao Ariel, quem a oferece, é Rita de Cássia.

Nesse dia nascia uma grande amizade entre eles.

No começo eram apenas telefonemas em dias alternados, depois esses telefonemas começaram a acontecer todas as noites e foram aumentando até acontecerem várias vezes por dia.

Vieram então os encontros, no princípio, esporádicos. Depois começaram a acontecer todos os domingos e com o passar do tempo, os encontros começaram a ser mais assíduos, eles eram realizados todos os finais de semana aos sábado e domingo.

Uma noite a mãe do Ariel, me telefonou dizendo ia viajar no final da semana, mas que o Ariel se recusava a ir com ela. Meio constrangida perguntou se eu me importaria dele vir dormir na minha casa, e continuou, ele quer ficar pertinho da Rita.

Respondi que ele seria recebido como um filho.

Ariel chegou trazendo sua mochila nas costas e um grande sorriso nos lábios.

Após o jantar, eu o chamei para uma conversinha:

- Ariel, você esta começando a vir dormir aqui, eu confio em você e sei que você vai respeitar a Rita. Você sabe o que quer dizer respeitar a namorada?

E ele me respondeu:

- Sei! Fica tranqüila Muriel, eu vou respeitar a Rita, não vou passar a mão nem no bumbum nem nos peitos dela, apesar dela ser gostosa.

Por dentro eu ri, com essa resposta tão direta e objetiva.

No começo eu ficava de olho para ver o que eles faziam. Mas com o passar dos meses, vi que ele realmente respeitava minha menina.

Ariel começou a dormir em casa com mais freqüência. Ele vinha na sexta feira à noite, ia embora no domingo, ao entardecer.

Cada fim de semana era esperado com muita ansiedade por ambos.

Numa sexta-feira, Ariel ligou para Rita dizendo que ele não poderia vir, pois a mãe ia viajar, e, sua avó estava gripada, e ele precisava ficar com ela para cuidar dela, ele não queria deixá-la sozinha, por isso ia dormir na casa dela. Perguntou se a Rita não podia ir dormir lá também.

Quando Rita me fez essa pergunta, fiquei indecisa ao permitir que ela fosse, porque logo me ocorreu o seguinte pensamento: A avó está doente, vai se deitar cedo, ambos vão ficar sozinhos, Ariel vai estar no “terreno” dele, será que ele não vai extrapolar nas carícias?

Nunca tinha me separado da minha filha, e meio amedrontada com meus pensamentos, respondi:

- Não!

Imediatamente vi as lágrimas de Rita escorrerem. Tristemente ela ligou para o namorado e chorando informou a ele que eu não permitira sua ida para lá.

Depois de desligar, disse-me:

- Mãe quando falei que você não deixava eu ir, ele começou a chorar. Disse que não quer ficar sem me ver esse fim de semana.

Olha mãe, se ele pode dormir aqui em casa, eu também posso dormir na casa da avó dele. Você tem que confiar em na educação que você me deu.

Eu prometo que não vou deixar que ele passe a mão em mim, não vou fazer nada errado.

Por dentro eu sorri aquela baixinha de olhos azuis, já não era mais uma menininha, era uma moça e estava reivindicando seus direitos. Ela era uma adolescente igualzinha as outras.

Por causa de seus argumentos, e confesso, também por um pouco de pena, pois ambos estavam chorando, resolvi voltar atrás na minha decisão. Abraçando Rita lhe disse:

- Você tem razão filha, eu confio em você. Você pode ir.

Ela pulou de alegria, saiu correndo, ligou pra ele. Depois me abraçou, me beijou várias vezes e sorrindo foi arrumar suas coisas.

Arrumou tudo com tanta alegria e felicidade, que chegue a me comover. Como de costume, conversei em meus pensamentos com Deus: Deus é tão pouco o que ela pediu, mas, esse “tão pouco” a deixou tão feliz. Muito obrigada!

Seria tão bom, se todas as pessoas pudessem se alegrar com as pequenas dádivas, que a vida oferece, a cada momento, assim como minha filha tinha se alegrado.

Os encontros do casal, dali pra frente, eram assim: um final de semana em minha casa, no seguinte na casa do Ariel.

Rita e Ariel já estavam namorando há um ano e meio, quando, seguindo o exemplo de meu filho e sua namorada, resolveram colocar no dedo uma aliança de compromisso.

Corinne, mãe do Ariel, concordou com a idéia e foi com eles comprar as alianças.

O texto De Mãos dadas com Deus
encontra-se registrado em cartório.
Você pode copiar desde que coloque: 
1. O título original.  
2. O nome da autora.  
3. O nome do blogue 
4. O endereço do blog.
Respeite sempre os direitos autorais

Nenhum comentário: