23 de abr. de 2009

De mãos dadas com Deus – Cap II

Capítulos II

Pela manhã acordei com uma imensa paz, e algo dentro de mim mandava que eu ligasse para a escola, e assim fiz.

Finalmente chegou o dia que eu deveria ir àquela entidade para conversar com a diretora. Para mim aquele dia parecia o dia do juízo final, eu estava triste e me sentia derrotada. Queria que alguém fosse comigo até a lá, mas não consegui ninguém para me acompanhar. Com o coração cheio de angustia, sozinha, fui à escola.

Durante a entrevista, entre outras coisas, fiquei sabendo o valor da mensalidade escolar era exorbitante, ela estava muito além das minhas possibilidades.

Mesmo explicando à minha entrevistante que Rita só precisaria da escola para fazer amigos, pois ela já havia feito o primeiro grau, sabia computação e por isso, não precisaria da escola para alfabetizá-la ou profissionalizá-la. Ela mostrou-se irredutível, quanto à minha proposta, que era pagar um pouco menos.

Tomada pela emoção desabei a chorar, tudo era sempre tão difícil para mim e para minha filha.

Com vergonha e me sentindo humilhada lhe expus minha situação financeira. Expliquei-lhe que eu era aposentada, que eu fazia alguns trabalhos extras para complementar o nosso orçamento doméstico, expliquei-lhe também que meu marido e meu filho estavam desempregados. Demonstrei a essa mulher que jamais poderia pagar aquela mensalidade altíssima.

Depois de lhe ter contado tudo isso, pedindo a Deus que me ajudasse, fiz a ela minha última uma proposta:

- Rita virá apenas uma vez por semana aqui na escola, virá só para ter convivência com jovem da idade dela. Isso lhe fará muito.

A diretora levantou-se, estendendo-me a mão para se despedir, falou:

- Vou estudar sua proposta.

Essa atitude fria da parte dela, me deixou sem muitas esperanças.

A partir desse dia comecei a rezar. Em minhas orações pedia a Deus que se fosse para a felicidade da minha filha, que a escola a aceitasse.

Alguns dias depois me ligaram da escola pedindo que eu comparecesse com Rita, pois a queriam conhecer.

Todos gostaram muito dela. Ela entrou numa sala para conversar com a psicóloga, depois. Levaram-na à outras salas. Depois uma senhora levou Rita para conhecer a escola.

Depois de ficar aguardando mais de duas horas. A diretora finalmente apareceu e pediu para que eu a acompanhasse. Assim que entramos na salinha, ela sorrindo bondosamente, me disse que me minha menina poderia freqüentar a escola todos os dias e que eu daria uma contribuição mensal, estipulada como doação à escola.

Emocionada dei-lhe um abraço forte e agradeci.

Quando Rita ficou sabendo que começaria a freqüentar uma escola especial, ficou muito chateada e me disse:

- Mãe, eu não quero voltar para escola especial. Lembra que pedi para você me tirar da outra, porque lá eu só colava feijão dentro de um circulo de papel?

Então eu lhe disse:

- Lembro sim filha, mas nessa escola é diferente. Eu não sei porquê mas Deus quer sua presença lá. ELE sabe o que faz.

Ela que aprendeu comigo a respeitar a vontade de Deus, respondeu:

- Se é isso que ELE quer de mim, então eu vou.

Apesar de ter feito algumas amizades na escola, Rita não conseguia preencher o vazio que sentia em seu coração, ela queria encontrar um alguém só para ela... Um namorado.

Como ela já navegava muito pela internet, achei que ela teria uma chance de conhecer rapazes através de uma sala de bate papo.

Juntas nós escolhemos a sala de chat "de 15 a 20 anos".

Logo que ela entrou já começou a conversar com um rapaz da sua idade, depois de uns dez minutos de conversa, feliz, ela virou-se para mim e disse:

- Mãe ele gostou de mim, pediu meu e-mail ou meu telefone.

Eu retruquei:

- Filha, não dá o telefone, dá só o e-mail, mas, antes de fazer isso, diga-lhe que você é tem síndrome de Down. Abaixei a cabeça e fiz de conta que continuava a ler o jornal.

Após mais alguns momentos no computador, ela falou:

- “Mãe, depois que eu falei que era Down, ele não falou mais nada”.

Ergui meus olhos do jornal, ia falar alguma coisa, mas, calei-me, as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela levantou-se, e foi silenciosamente para seu quarto.

Esse mesmo fato eu vi ocorrer muitas vezes, todas as vezes que ela num bate-papo contava ao seu correspondente ser Down, o mesmo não falava mais com Rita.

Na última vez em isso ocorreu, ela olhou para mim com seus olhos azuis cheios de lá lágrimas e disse:

- Não adianta mãe, ninguém quer namorar uma moça Down.

Com o coração espremido no peito eu a abracei e lhe disse:

- Filha nós já vencemos tantas coisas, vamos vencer isso também.

Segurei suas mãos e rezei:

- Deus, Todo poderoso olha pela minha filha, ela merece ser feliz, pois é uma boa filha. Coloca no caminho da Rita um rapaz que a faça verdadeiramente feliz.

Após essa oração ela me deu um abraço, um beijo e foi para seu quarto.

Vendo-a subir as escadas fiquei me interrogando sobre o que eu poderia fazer para ajudá-la.

De madrugada Rita entrou no meu quarto trazendo seu travesseiro e me disse:

- Mãe eu posso me deitar com você? Eu estou me sentindo muito sozinha.

Ergui o edredom e ela deitou-se bem pertinho de mim. Depois de cobri-la apaguei a luz, não queria que ela não visse as minhas lágrimas que deslizavam pelo rosto.

Abracei-a com carinho e como sempre rezei. Pedi a Deus que iluminasse o meu caminho, que me mostrasse o que eu deveria fazer para tirar minha filha da solidão em que se encontrava.

Na manhã seguinte acordei com uma pergunta martelando meu cérebro...

O texto De Mãos dadas com Deus
encontra-se registrado em cartório.
Você pode copiar desde que coloque: 
1. O título original. 
2. O nome da autora. 
3. O nome do blogue
4. O endereço do blog.
Respeite sempre os direitos autorais

Nenhum comentário: