12 de set. de 2009

ATITUDES PRECONCEITUOSAS V

Atitudes Preconceituosas VMuriel Elisa Távora Niess Pokk

Já percebi que em escritórios, fábricas, oficinas e outros lugares, o preconceito é acentuado contra o portador de deficiência.
Vi chefes, encarregados e funcionários em geral que tomam atitudes preconceituosas, sem ao menos tentar ver as qualidades do ser humano, sem ao menos tentar ver todo o esforço que faz o portador de deficiência para no trabalho dar o máximo de si mesmo.
Este caso aconteceu há poucos dias com uma grande e querida amiga que é portadora de deficiência auditiva, infelizmente nem mesmo com um aparelho auditivo, ela consegue escutar.
Célia trabalhava há um ano e meio numa indústria de cosméticos.
Saía de casa todos os dias, por volta das 3:15h da madrugada. Tomava o ônibus da firma às quatro horas, e batia o ponto às seis horas.
Um dia ela tocou a campainha da minha casa e, quando abri a porta, encontrei-a chorando. Ao indagar o porquê de seu choro, ela me disse que havia sido despedida. Dizia ainda que não sabia porque fora dispensada. Que não fizera nada de errado, que nunca faltara ao serviço e que também nunca chegara atrasada. Ainda chorando, pediu para que eu voltasse à firma com ela para falar com o pessoal de lá.
Lá fui eu para outra cidade para tentar ajudar minha amiga.
Logo que chegamos, ela me apresentou à sua à chefe - fazia apenas um mês que essa pessoa ali trabalhava.
Perguntei-lhe porque minha amiga fora despedida.
Ela me disse:
- Despedi a Célia porque ela não sorri nunca. Não dá pra trabalhar com uma pessoa assim, sempre de cara fechada.
Ao ouvir o motivo dado para a dispensa de Célia, não pude acreditar no que ouvia. O motivo era torpe demais.
Perguntei-lhe:
- A senhora tentou conversar com ela e explicar-lhe que ela deveria sorrir e ser mais simpática?
Ao que ela responde:
- Não! Nem tentei, sequer entendo o que ela fala. Desconheço a linguagem gestual dos surdos-mudos.
O antigo encarregado do setor em que Célia trabalhava chegou nesse momento. Perguntei-lhe se ele tinha alguma reclamação quanto ao trabalho dela, e ele respondeu que ela era uma ótima funcionária, trabalhava muito bem e fazia seu trabalho rapidamente. Quando terminava o mesmo, ia ajudar os colegas mais lentos.
Então a chefe retrucou:
- Ela empilhava as caixas de uma forma, mas quando ela ia ao banheiro, eu mandava outro funcionário empilhar as caixas de forma diferente. Quando ela voltava, tirava as caixas da posição e colocava outra vez como ela estava fazendo. Ela queria passar por cima de mim e dar uma de chefe.
Célia tem leitura labial e entendeu o que a mulher falava, então ela me falou que aprendera com o chefe anterior a colocar as caixas daquela maneira, pois da forma e essa chefe queria que colocasse, depois de empilhar décima caixa, elas se desequilibrariam e cairiam, o que já havia acontecido várias vezes.
O encarregado, sorriu e concordou com Célia. Disse-me que ela tinha razão.
Foi uma pena eu não ter levado um gravador para gravar toda essa conversa.
Mas, como não fiz isso, fica aqui meu desabafo e as perguntas:
- Uma pessoa deve ser despedida por não sorrir?
- Como sorrir sem motivos, trabalhando o dia inteiro em pé, carregando caixas e caixas pesadas, após ter levantado às três e meia da madrugada?
- Como sorrir, quando se leva bronca por fazer o serviço corretamente e seu superior incompetente o manda fazer um serviço de forma errada quando o chefe anterior explicou como o serviço devia ser feito para ser perfeito?
- Como sorrir tendo uma chefe que não está preparada para compreender um portador de deficiência auditiva, que não consegue entender Libras e que muito pouco faz para compreender a comunicação labial?
Apesar de tudo, ainda creio na humanidade. Acredito que um dia os portadores de deficiência serão amparados amplamente, não só pelas leis, mas por pessoas que tenham amor no coração e sejam realmente capacitadas para entendê-los.
Texto registrado em cartório

* Muriel é palestrante sobre a síndrome de Down.
* Em 1994 - Criou na religião Católica Apostólica Romana o curso de catequese, (curso de religião) para pessoas com deficiência intelectual, possibilitando assim que os mesmo pudessem fazer a primeira comunhão.* Em fevereiro de 2.000 – Criou a 1ª sala de bate-papo para portadores de deficiência. Pelo ineditismo da mesma, publicaram o fato, vários jornais entre eles: 1) Diário Popular, 14/03/2000 (caderno informática, págs. 1 e 3); 2) O Globo, do Rio de Janeiro (caderno Informática, pg. 7); Consta ainda na ata da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo "ATO DE LOUVOR" .
* Em fevereiro de 2000 - Criou O Site Grandes Encontros
http://www.grandesencontros.com.br . Primeiro site do mundo de encontros para pessoas portadoras de deficiência.
* 2005 - Participou do grupo Movitae - estudo da célula tronco. Aprovado 04 de março de 2005, Câmara, Brasília.
* 2006 – 10 de maio - agraciada, com o troféu: "Mulher de sucesso 2006", Câmara Municipal de SP.

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