8 de ago. de 2009

Ao meu pai Gustavo Pedro Niess

Zuleide Gustavo filhos e vó Paulina 

Pai o natal sempre foi muito importante para você. Com a aproximação do mesmo, você construía a morada da santa família. Arrumava o presépio em cima da cômoda, e em volta da manjedoura, além de José e Maria, eram colocados vários bichinhos de papel, feitos com dobraduras, por suas mãos habilidosas.

Com muito cuidado você escolhia a árvore mais bonita, e já em casa, cheio de alegria, colocava-a na sala. Em alguns galhos colocava bolas de cores variadas, em outros, pequenos flocos de algodão,  e em outros, ainda, garrafinhas de chocolate embrulhadas em papel colorido.

Às vezes você nos dava uma bronca, porque as garrafinhas de chocolate desapareciam da árvore "misteriosamente", antes mesmo do dia 25 chegar.

Éramos pobres, mas você fazia questão de dar a cada um de nós, um presentinho.

Assim, nossa árvore de natal abrigava todos os anos seis embrulhos.

Para que não pegássemos a lembrancinha errada, você escrevia em cada presentes o nome do destinatário.

Já se passaram muitos anos da minha infância, mas hoje, após ver tantos pais que existem por aí parabenizo-o pelo grande pai que foi!

Você conseguiu ser: rígido... Lembro das cintadas recebidas; carinhoso... Sinto ainda seus beijos de boa noite; amigo... Conversávamos sobre qualquer assunto; companheiro... e que grande companheiro, quantos balões e pipas soltamos juntos, quantas vezes fizemos juntos cabaninhas no quintal.

Lembro-me daquela noite quente, que sem dar atenção aos protestos de mamãe, você resolveu atender ao nosso pedido e acampamos novamente no nosso pequeno quintal.

Os cobertores estendidos sobre o varal, presos com os pregadores, formavam uma cabana desengonçada, mas confortável.

Com grande algazarra, arrastamos os colchões e os arrumamos, ali no chão, lado a lado. Ainda o vejo deitando-se pertinho de mim.

Mesmo não havendo perigo algum, você não nos deixaria dormir ali sozinhos.
De madrugada, um temporal desabou...

Molhados, mas rindo muito, recolhemos tudo às pressas.

Depois, fiquei ali olhando e ouvindo as palavras de reprovação que mamãe lhe dava. Deu-me uma vontade imensa naquele momento de ir ao seu encontro e o abraçar, mas fiquei ali parada, pensando: Ela não consegue compreender que ele só esta nos ajudando a realizar sonhos, porque sabe que no futuro, não poderá mais fazer isso.

Seus vícios eram fumar, ser honesto. E seu vício maior era trabalhar e trabalhar muito, trabalhar tanto, que chegou a ter na mesma época, três empregos.

Durante o dia trabalhava no comércio, à noite dava aula de inglês e nos finais de semana,  lavava e consertava tapetes importados.

Você só não queria que faltasse nada dentro de casa,

queria dar de tudo para seus 6 filhos.

Em 1968 você adoeceu, mas em momento algum eu o vi triste ou amargurado. Com o passar dos meses, a doença foi lhe tirando as forças.

Com a aproximação do Natal, sem conseguir levantar-se da cama, pediu que comprássemos um pinheiro e o levássemos até seu quarto, e continuou: "Não esqueçam de trazer as garrafinhas de chocolates"

Como uma criança pequena, ao ver a árvore, os enfeites e o presépio, você sorriu, seus olhos brilharam de felicidade.

Ajeitando-se na cama foi nos instruindo onde queria que as garrafinhas de chocolate ficassem.

Naquele ano, quebrando a tradição, a árvore e o presépio ficaram em seu quarto.

Às vésperas do Natal, pai, como era seu costume, você fez mais alguns bichinhos de dobraduras e colocou-as no presépio. Pegou em suas mãos o pequeno Deus-menino e sorrindo disse:

“Olha os bichinhos que eu fiz esse ano para Lhe fazer companhia, assim você não fica tão sozinho".

À meia noite do dia 24 de dezembro, com pena de ver o menino Jesus tão solitário, você foi para p céu, foi empinar pipa com Ele.

Tenho muito orgulho de você pai... Onde você estiver

FELIZ DIA DOS PAIS.

Muriel Elisa Távora Niess Pokk
Registrado em cartório

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